sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

confidências...

Algo me incomodava: o que seria o prazer? O que seria esta capacidade que algumas mulheres diziam ter de conseguir orgasmos múltiplos? Onde estaria o danado do ponto G? Escondido no armário, camuflado, ou simplesmente não existia e eu era uma anormalidade, segundo as ideias que tanto vendem hoje as revistas? Porque eu por vezes sentia sensações tão diversas com homens diferentes? Seria o pénis assim tão importante? Seria eu capaz de gozar sem o pénis? Porque eu parecia gozar com alguns homens e não com outros? Por que, conversando com algumas mulheres, as definições e opiniões pareciam diferentes, ou por que algumas tinham mais facilidades que as outras para atingir o orgasmo? Por que, por vezes, ser chupada me dava mais prazer que a penetração? Ou porque, com alguns, eu sentia mais a necessidade da penetração do que dos preliminares? E se um dia eu tivesse vontade de gozar e não tivesse um homem do meu lado?

Tantas perguntas, tão poucas respostas sensatas. Ou respostas tão bem definidas, mas que não se encaixavam na prática. Sexo estudado cientificamente. Sexo na teoria. Sexo explicado por psicólogos de maneira tão distante e formal, como se eles também não fizessem sexo. Como se não fosse através do sexo que eles tivessem nascido.

Foi então que eu decidi que só poderia haver uma coisa a fazer: descobrir o desconhecido. Melhor dizendo, masturbar-me.

Comecei por acariciar o meu corpo, de cima à baixo. Qual seria a intensidade que eu gostava de ser tocada? Primeiro toques leves, depois toques mais intensos, enquanto me despia em frente ao espelho pendurado na parede. Com 4 velas aromáticas acesas, além da minha imagem à meia-luz eu também via as minhas sombras, e isto começou a me excitar.

Desci meu corpo até os pés, sem dobrar os joelhos, e desamarrei minhas sandálias. Tirando pé por pé de dentro daquele salto que me fazia tão mais alta, joguei as sandálias para o canto da parede. As calças escorregavam, mas não tirei-as completamente. Senti o tecido a deslizar, os meus pêlos a se arrepiarem. Deslizei minhas mãos, tomando o cuidado de também ir tirando meus pesados anéis dos dedos. Fiquei de costas para o espelho, segurando um outro espelho menor na minha mão. Como eu era vista de costas? Como me viam? Quais os ângulos e movimentos que mais me favoreciam, ou que faziam que eu parecesse mais sensual? Tinha mesmo um belo rabo. Comecei ali a sentir atracção pelo meu corpo. Quase tive uma relação lésbica comigo mesma.

O pequeno espelho ficou no chão, num canto da parede, enquanto continuei a me conhecer. «Olá, muito prazer» - eu dizia-me. «Hoje você será toda minha». Não havia som como resposta. Não ouvia o meu próprio eco. Mas conseguia ler os meus lábios. Não tinha uma resposta verbal, mas os olhos que via só diziam uma coisa: «eu te desejo».

Era o momento ideal. Química havia entre mim e o espelho. Desabotoei cada botão da minha t-shirt. Não queria tirar tudo de uma vez. Eu queria seduzir-me. Ainda com o sutien, continuei a acariciar todo o meu corpo, e a rebolar no ritmo dos toques que eu me dava. Uma música lenta no fundo fazia com que meu corpo dançasse.

Enfiei a mão por dentro do sutien, puxando por um peito para fora. Era lindo. Comecei a tocá-lo com a intensidade que me fazia sentir prazer. Tirei o sutien. Deu vontade de chupá-los, mas o máximo que conseguia era passar a ponta da minha língua nos biquinhos dos mamilos. Então humedeci dois dedos e estive a brincar com os bicos dos meus peitos, que logo ficavam arrepiados.

Ali tinha encontrado minha primeira zona erógena. Até os pêlos do meu pescoço se arrepiavam.

Tirei a cueca. Estava ali, completamente nua, completamente desejosa. Voltei a pegar no espelho menor, que deixei encostado na parede. Coloquei debaixo das minhas pernas. Coloquei em várias posições. Queria ver o que o homem via em cada posição que me fodia. Voltei a colocar o espelho no chão do canto da parede e retornei para o espelho grande pendurado. Comecei a tocar-me na frente do espelho. Movimentos horizontais ou verticais no clitóris? Notei que os movimentos horizontais me pareciam mais excitantes. Continuei a masturbar-me em frente ao espelho. O que eu sentia e pensava? Sentia que estava entregue, pensava que estava a ser fodida. Um eco dentro de mim dizia: «Caralho, eu sou mesmo muito boa!»

Tive vontade de ir movimentando a anca para a frente, coisa que ainda não tinha feito com ninguém durante o acto sexual. Aquilo me deu cada vez maior prazer. Comecei a sentir-me cada vez mais excitada, a cada vez que aumentava o ritmo, que quase já o fazia involuntariamente. Meus dedos faziam movimentos a correr na horizontal, de um lado ao outro do clitóris. Não era um movimento muito forte nem muito leve. Era o movimento que eu acabava de descobrir que me dava prazer. Sinto o ritmo cardíaco acelerar. Minhas pernas estão erectas, mas eu tenho vontade de curvá-las, mas não faço, porque tudo o que penso é «Quero gozar, quero gozar, quero gozar.» De repente, sinto um prazer enorme me possuir, como se um ar quente estivesse dentro de mim. Começo a me contorcer, tanto que acabo tirando os dedos do clitóris e curvo a barriga para frente. Acabava de ter, sozinha, o meu primeiro orgasmo. Acabava de recebê-lo, ao mesmo tempo que acabava de dá-lo a mim mesma. Coloco um dedo perto da minha vagina e vejo que ela está muito molhada.

Viciei-me na masturbação, tanto que passei a praticá-la todos os dias. Como eu não tinha descoberto isto antes?

Passei a me masturbar fazendo variações. De princípio, variando as posições. Minha segunda masturbação foi deitada na cama. Tirei a minha roupa, depois de ter tomado um banho e ter me perfumado. Preparei-me para mim. Se o fazia para os homens com quem me deitava, porque não faria por mim mesma? Coloquei um lençol de seda, que, apesar de deslizar, era delicioso ter por debaixo da pele. Passeei minhas costas pelo lençol. Virei-me de barriga para baixo e deslizei todo o meu corpo ali. Em dado momento, simulei que tinha um homem por baixo de mim, e comecei a bater com a minha cona no lençol. Os bicos do meu peito se arrepiavam toda vez que eu os passava no lençol, de leve, quase que como fosse sem querer.

Deitei-me novamente com as costas no lençol e comecei a me tocar. Nuca, rosto, pescoço, mãos cruzadas sob o peito para tocar nos ombros, uma mão em cada peito, uma mão no peito e outra fazendo movimentos circulares na barriga, até chegar onde queria: o meu clitóris.

Experimentei também me masturbar virada para o lençol, com o braço espremido debaixo do meu corpo, minha mão desesperada a tocar meu clitóris. Sempre sensações diferentes, mas que sempre me garantiram um novo orgasmo.

Um dia eu quis saber como funcionava o meu corpo por dentro quando atingia o orgasmo. Conhecia o que acontecia por fora: ritmo cardíaco acelerado, calor, contorcia o corpo, quase como se tivesse epilepsia, tremia, sentia a boca seca, enquanto a vagina parecia molhada, uma vontade desesperada de fechar as pernas. Então, enquanto com uma mão eu me masturbava, um dedo da outra mão eu enfiava na vagina. No momento do orgasmo eu senti: latejava por dentro, quase que como se fosse espremer o meu próprio dedo. Sem ter qualquer tipo de nojo de mim mesma, coloquei o dedo na minha boca: meu orgasmo era doce.

Também experimentei me masturbar com o meu vibrador. Tocava meu clitóris enquanto deixava o vibrador dentro de mim. Vibração ligada, uma mão ajudando a enfiar e tirar. Outra mão no clitóris, fazendo os movimentos que tanto me deliravam.

Quis também experimentar masturbar-me com pensamentos diferentes, daqueles que a gente não confessa para ninguém, ou aqueles que a gente só se excita enquanto fantasia, mas que não teria coragem de realizar. Pensei que estava sendo fodida de forma selvagem. N’outro dia, pensei que fazia amor, criando toda a história na minha cabeça. Em outra altura, pensei que um homem me fodia de quatro, enquanto uma mulher, deitada por baixo de mim e com a cabeça virada para as minhas pernas, lambia o meu clitóris. Fiz caras e bocas enquanto chupava o meu vibrador, enquanto imaginava que chupava um homem que estava em pé na minha frente, enquanto outro, ajoelhado no tapete de frente da cama, me chupava o clitóris. Cheguei mesmo a me masturbar de pé, pensando que eu era um homem e alguém me fazia um broche. Fodi com a fria parede do meu quarto, ralando meu corpo nela, enquanto me masturbava. Encostava e fugia da parede, mas sempre lá voltava, mais cheia de tesão.

Mudei também os ambientes. Me masturbei na sala, enquanto assistia um filme erótico. Me masturbei na casa de banho, usando a velocidade da água do chuveirinho. Me masturbei dentro do metro, tomando o cuidado de colocar um grande casaco por cima das minhas pernas.

Descobri que a masturbação e o sexo com alguém eram coisas paralelas, mas que mesmo assim se complementavam. Depois da masturbação, consegui conduzir um homem para que me tocasse das formas que eu gostava, ou consegui incentivá-lo a dar-me mais prazer. Consegui soltar-me mais, porque eu vi que, nas outras vezes, parecia sempre que o prazer dele era mais importante que o meu. Como não havia qualquer tipo de pressão, e conhecia bem o meu corpo, era muito mais fácil ter orgasmo com outros homens. O que não impedia que, com um egoísta ou outro, eu não conseguisse chegar ao orgasmo. Mas não me importava. Ia para a casa de banho e me masturbava, quando não me masturbava ali, à frente dele. Ensinei alguns a me masturbarem. Ensinei que, se encontrarem o ponto certo, a velocidade e intensidade certa, deveriam manter o mesmo ritmo. Senão, era o mesmo que, caso eu fosse um homem, meu pau caísse e já não conseguisse se levantar, por mais que toda a cena fosse apelativa ao tesão.

Tinha alturas em que ficava tão excitada que acabava sendo natural conseguir orgasmos múltiplos. As sensações continuaram a ser diversas, por vezes até mais intensas, de acordo com a forma que era tocada e explorada. Vi que o pénis era sim importante, mas não era essencial. Se não fosse importante, eu viveria de masturbação. Se fosse essencial, eu não conseguiria um orgasmo sem o pénis. Vi que o mais importante no sexo não era a penetração, mas todo aquele jogo de sedução, todo o acto de querer proporcionar prazer um ao outro, toda uma entrega, os toques, os cheiros, as sensações, o carinho, a sedução. Descobri que, se com alguns homens eu tinha sensações diferentes, era simplesmente porque a abordagem ao sexo tinha sido diferente. Ou porque havia ou faltava química. Ou porque havia mais entrega de um do que do outro. Ou porque uns conseguiam me tocar nas minhas zonas erógenas enquanto outros me tocavam em áreas em que eles acreditavam ser estas minhas zonas erógenas. Ou porque me tocavam em zonas que apenas davam prazer para eles, e não para mim. Não importa qual a razão. O importante era eu saber identificar a razão do prazer com cada tipo de parceiro. Alguns, com um simples toque, quando dado na intensidade certa ou no local certo, ou às vezes apenas um olhar provocante, fazia com que eu sentisse tesão. Enquanto com outros o processo era mais lento, porque envolve um aprendizado sobre o corpo do outro.

Em relação às outras mulheres, nunca pode haver uma comparação. Cada uma tem um corpo diferente, sentimentos, desejos, formas de explorá-lo.

E o melhor atributo que a masturbação me conferiu foi este: como eu poderia exigir que conhecessem o meu corpo, antes de eu mesma conhecê-lo?

"LIFE Girl"

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